Promovendo uma cultura de segurança

Após milhares de anos de mineração e inúmeros desastres, a indústria que fornece muitos dos materiais usados e valorizados atualmente passa por uma revolução em segurança.

APESAR DAS FATALIDADES que são periodicamente noticiadas, avanços na tecnologia e nos métodos de mineração, unidos a métodos proativos de avaliação de risco, estão tornando as minas mais seguras. Ter uma atitude proativa significa antecipar-se aos riscos.

“É uma grande mudança para a indústria,” diz o Professor Jim Joy, do Centro de Saúde e Segurança na Indústria de Mineração, da Universidade de Queensland, na Austrália. O Professor Joy presta consultoria para reguladores da indústria de mineração e grandes companhias mineradoras ao redor do mundo. Embora muitos países tenham adotado uma política de tolerância zero para com acidentes, eles ainda acontecem. Um dos mais recentes ocorreu em Petrila, na Romênia, onde uma explosão em uma mina de carvão matou 12 operários.

“Nos últimos 20 anos, a segurança nas minas melhorou drasticamente em todo o mundo,” afirma o Professor Joy. “Muito se deve aos novos métodos e tecnologias, como o método longwall de mineração de carvão, que pode salvar vidas, porém, ironicamente, também apresenta riscos. A base para a segurança nas minas está em sistemas de trabalho e comportamento seguros e também na engenharia,” diz Stuart Evans, diretor de segurança, saúde e meio ambiente da Sandvik Mining and Construction. “É vital adotar uma cultura rigorosa de segurança no trabalho. Segurança traz bons negócios e pesa cada vez mais na escolha do fornecedor de equipamentos.”

EM 2007, A SANDVIK Mining and Construction implantou uma política própria de segurança, saúde e meio ambiente. Segundo Evans, os sistemas e a cultura de segurança tornam-se cada vez mais fortes. De 2005 ao final de 2008, os casos de afastamento por acidente de trabalho em minas onde a Sandvik está presente, no mundo todo, diminuíram em 50%.

De acordo com o Departamento Americano de Saúde e Segurança nas Minas, de 1936 a 1940 houve 1.546 mortos e 81.342 feridos em minas americanas, enquanto de 2006 a 2007 houve 69 mortos e 11.800 feridos.
Metade das minas americanas ativas não registrou afastamentos por acidente de trabalho em 2007.

Mesmo alegando ter minas com excelentes níveis de segurança, a China bateu o recorde de mortes em mineração em 2007, que, de acordo com sua agência nacional de segurança no trabalho, totalizaram 3.800. Porém, muitos creem que o total verdadeiro seja bem mais alto.

NA ÁFRICA DO SUL, em dezembro de 2007, 240.000 mineiros participaram de uma greve nacional contra os baixos padrões de segurança, em resposta a um incidente, em outubro do mesmo ano, no qual 3.000 mineiros ficaram presos em uma mina de ouro, por um dia. Lá, em 2006, houve 199 mortes. “Esta situação não pode continuar”, disse Erick Gcilitshana, diretor de saúde e segurança do Sindicato Sul-africano de Trabalhadores em Minas, à revista African Business. “Precisamos de segurança agora. Os empregadores têm de tomar a iniciativa de investir em segurança da mesma forma que investem em produção.”

Atualmente, muitos dos casos de afastamento por acidente de trabalho não são computados. Em parte, isso se deve ao antigo sistema, já abandonado por muitos, de pagamento de bônus quando nenhuma lesão fosse registrada. Hoje, em muitos países, casos em que um incidente fatal foi claramente causado por negligência são puníveis com multas pesadas e prisão dos gerentes seniores da empresa.
“Há uma tendência, ainda que nova nessa indústria, de se avaliar um bom trabalho pelos seus indicadores de progresso (o que se tem feito para prevenir incidentes) e não pelos seus indicadores de atraso (o número de mortos e feridos)”, diz Professor Joy. “A atitude proativa é recompensada.”

Para manter os trabalhadores seguros

Certamente, não há método mais seguro do que a total remoção dos trabalhadores das áreas de risco. O AutoMine é um sistema automatizado de coleta de minério, que ao mesmo tempo proporciona maior segurança e eficiência nas operações de mineração subterrânea, através da tecnologia da automação.

Com ele, as carregadeiras em minas subterrâneas são operadas remotamente, de maneira mais produtiva, por mais tempo, com menor desgaste e menos falhas, reduzindo, assim, o custo por tonelada.
“Todos estão buscando soluções mais seguras e eficientes,” diz Taina Heimonen, gerente global da linha de produtos de automação da mineração da Sandvik Mining and Construction.
“É um dos grandes objetivos da mineração.”

A empresa vem desenvolvendo a tecnologia da automação desde 1990. Atualmente, o AutoMine está presente em várias das principais minas no mundo. Uma das primeiras instalações do AutoMine foi feita em 2005, na mina de diamantes DeBeers em Finsch, na África do Sul. Lá, caminhões automatizados realizam um circuito de transporte entre os pontos de carga e a unidade de britagem primária. A lei sul-africana estabelece o limite de velocidade de 16km/h para máquinas de mineração com operadores a bordo. Porém, segundo o Engineering and Mining Journal, o AutoMine permite que os caminhões de Finsch atinjam uma velocidade de 35km/h, pois são comandados a distância, na confortável e segura sala de controle remoto.

OS VENTOS da segurança sopram a favor da mineração, na medida em que seus veículos e ferramentas se tornam cada vez mais ergonômicos e seguros. Na nova linha de LHDs da Sandvik, por exemplo, o serviço e a manutenção são realizados em pontos de fácil acesso na máquina, ao nível do solo.Os crescentes avanços em tecnologia da computação permitem que empresas como a Sandvik desenvolvam sistemas de operação de máquinas à distância. A Sandvik foi pioneira ao lançar o AutoMine, um sistema remoto e automático de operação de caminhões nas minas.

E os avanços não param por aí. Para aumentar a segurança, novos produtos para mineração surgem a todo momento – de novos capacetes e sistemas de iluminação para coletes a botas e ferramentas para simulação.
Após o desastre de 2006, que matou doze mineiros em Sago Mine, West Virginia, nos EUA, o congresso americano aprovou uma lei exigindo que as mineradoras aperfeiçoassem seus meios de segurança e fossem capazes de localizar cada trabalhador no subsolo e de resgatá-lo, em caso de acidente.

As empresas têm até 2009 para se adequarem à Lei de Mineração de 2006. Porém, não há consenso sobre a tecnologia a ser usada, uma vez que, sendo o trabalho subterrâneo, antenas e outros meios de comunicação não são infalíveis. Uma alternativa é equipar as lanternas dos capacetes com chips eletrônicos. Um sistema de paging que funciona através do solo, de baixíssima frequência, garante a comunicação com os mineiros em caso de emergência.

EMBORA AS TAXAS de mortalidade e afastamento por acidente de trabalho tenham caído recentemente, variando conforme o país e as commodities, o desempenho da indústria como um todo, em relação à segurança, continua abaixo do desejado.

“Não chegamos nem perto do que a sociedade consideraria seguro e aceitável,” diz o Professor Joy, referindo-se à pesquisa social que define segurança como uma morte em cada 100.000 trabalhadores, por ano. Enquanto isso, uma mineradora de alto padrão registra, por ano, uma morte em cada 10.000 trabalhadores.
“Como se vê, ainda há muito trabalho pela frente,” declara.
Alexander Farnsworth