Nascer de novo
Katowice, Polônia Com mais de um século de história, a mina de carvão PG Silesia, no sul da Polônia, renasceu sob o comando dos novos proprietários tchecos. A segurança foi um fator determinante na escolha de equipamentos para tunelamento. Um par de mineradores contínuos Sandvik MR 340S estão abrindo os caminhos.
Renascimento. Novos proprietários no sul da Polônia estão revitalizando a mina de carvão PG Silesia, de 110 anos de história, onde as Roadheaders MR340s da Sandvik abrem túneis a caminho do “ouro negro”. Após anos de reestruturação, redução da produção e falta de capital, a maior indústria de carvão da Europa está mais uma vez exalando confiança. Katowice, quase na fronteira com a República Tcheca, é o coração palpitante do distrito industrial e de minas. Cidades, minas, montadoras de automóveis e chaminés fumegantes se misturam na paisagem e, desde a queda do comunismo, shoppings enormes foram adicionados ao caos.
A PG Silesia
A PG Silesia estava prestes a encerrar as atividades quando a Energeticki Holding Prumyslovy (EPH) comprou a empresa da estatal Kompania Weglowa, em dezembro de 2010. A EPH é uma holding com mais de 20 unidades que produzem e comercializam energia elétrica, incluindo de fontes renováveis, e aquecimento.
Desde a aquisição, a PG Silesia já dobrou sua mão de obra, atualmente em torno de 1.500 empregados. No total, a EPH está investindo 150 milhões de euros em toda a empresa, de novas máquinas para sistemas de transporte e instalações para beneficiamento de carvão. Após a conclusão das melhorias, três milhões de toneladas de carvão serão extraídas anualmente. As reservas de 130 milhões de toneladas serão suficientes para mais de 40 anos.
A atividade subterrânea é igualmente intensa. O carvão é extraído há séculos na área. Na década de 80, 200 milhões de toneladas de hulha e 36 milhões de toneladas de lignito eram mineradas em toda a Polônia anualmente.
Desde então a mineração caiu mais da metade, enquanto as importações aumentaram. Hoje o carvão produz 93% da eletricidade do país, mais do que em qualquer outro lugar da Europa.
“Tivemos anos difíceis”, lembra Zbigniew Kluka, de 58 anos, que passou toda a sua carreira na PG Silesia e agora, oito anos após sua aposentadoria, voltou para ajudar no reerguimento da mina. “Uma vez mineiro, sempre mineiro”, diz Kluka com orgulho, removendo seu capacete para enxugar o suor da testa.
A PG Silesia está perto de Czechowice-Dziedzice, 50 km ao sul de Katowice. Durante muito tempo, a mina foi considerada próxima do fim.
A empresa estatal Kompania Weglowa, que está para ser privatizada em 2014, não tinha recursos, e por muitos anos não fez investimentos em novas máquinas. Por fim, o sistema de transporte e os equipamentos de segurança tornaram-se irremediavelmente obsoletos.
“Era uma visão deprimente”, lembra Ewa Szpejna, chefe de comunicação da mina. “As máquinas eram velhas e desgastadas e você podia ver claramente que toda a mina era carente de investimento.” Szpejna, 36, começou na PG Silesia em dezembro de 2010, quando o grupo tcheco de energia Energeticki a Prumyslovy Holding adquiriu a empresa com seus 750 funcionários. Desde então, a realidade mudou. Foram planejados investimentos de 150 milhões de euros, dos quais 110 milhões já foram aplicados na empresa. Sistemas de transporte e plantas de limpeza e processamento foram modernizados ou reconstruídos. Vestígios dos velhos tempos podem ser vistos entre os edifícios: máquinas descartadas, ferramentas enferrujadas e cabines elétricas com cabos soltos flutuando ao vento.
Cerca de 250 funcionários aposentaram ou deixaram a empresa, mas ao mesmo tempo, 1.000 novos postos de trabalho foram criados e a confiança está crescendo. “Nós nos acostumamos a promessas que nunca eram cumpridas”, conta Jacek Kastelik, que já trabalhou na mina por 21 anos e agora é chefe de segurança da PG Silesia. “Agora podemos ver com nossos próprios olhos que investimentos estão sendo feitos em novas máquinas e instalações”.
Segurança é fundamental para o proprietário tcheco, cujo objetivo é transformar a PG Silesia na mais moderna mina de carvão da Polônia. “Como uma empresa privada em uma indústria dominada pelo Estado, queremos nos destacar com nossa segurança exemplar”, diz Thoralf Klehm, vice-diretor de gestão da PG Silesia. Klehm trabalhou durante décadas em várias posições gerenciais em minas de carvão pelo mundo, da África e da Rússia ao Cazaquistão e ao cinturão de carvão do leste da Alemanha.
A segurança foi um fator determinante para o novo proprietário escolher os mineradores contínuos Sandvik em vez de máquinas polonesas de menor porte, que não podem abrir túneis de dimensões semelhantes. O fluxo de ar é melhor em túneis maiores, com uma seção transversal de 22 m², e ao mesmo tempo, também há espaço para instalar sistemas de ventilação mais poderosos, capazes de sugar o gás metano.
Klehm salienta que, ao escolher fornecedores de equipamentos, deu grande importância tanto para a atitude em relação à segurança quanto para a capacidade de realizar treinamentos práticos e teóricos. “Colocamos no contrato que a Sandvik deveria ter gerente e operador de turno no local nos primeiros meses para treinar nossos funcionários e deixar toda a atividade funcionando”, relata. “Isso foi crucial para nós. Não foram feitos investimentos na mina por muitos anos e os empregados precisavam receber alguns treinamentos completos.”
A Sandvik, que tem sede em Tychy, no distrito de mineração da Polônia, entregou dois 340s no ano passado. Os gigantes de dez metros e 52 toneladas agora estão cortando as novas estradas, 600 metros sob a superfície.
Eles trabalham lentamente sob uma nuvem de poeira, meio metro de cada vez, antes de pararem para que sejam instaladas estruturas de sustentação em ferro nos trechos recém-abertos.
O operador Grzegorz Radon recebeu cinco dias de treinamentos na mina e nas instalações da Sandvik em Tychy. Depois, recebeu 20 dias de treinamento prático na mina, conduzido por especialistas da Sandvik.
“Agora podemos atuar por conta própria”, afirma com um largo sorriso no rosto empoeirado. “As máquinas seguem funcionando, mesmo se às vezes temos que improvisar quando a rocha é mais dura que o normal.” Incluindo o operador, onze pessoas trabalham na máquina, por turno.
Ahulha extraída na PG Silesia é destinada para a região fronteiriça entre a Polônia, a República Tcheca e a Eslováquia, onde fica grande parte das estações elétricas de carvão dos três países e onde a maioria das famílias e muitas empresas utilizam carvão para o aquecimento. Inicialmente, foi definida a produção máxima de 1,3 milhão de tonelada por ano. Mas já em meados de 2013, quando a ampliação e a modernização estiverem concluídas, a mineração vai aumentar para três milhões de toneladas.
Dados técnicos
A série MR 300 da Sandvik é composta por mineradores contínuos de quarto tamanhos, do MR320, que abre até 4,54 metros de altura e 7,6 metros de largura, até o MR380, que pode abrir 6,3 metros de altura e 7,86 de largura.
Todos pesam 52 toneladas e possuem dez metros de comprimento e até 4,1 metros de altura. O motor que propulsiona a ferramenta de corte é de 200 kW.
As máquinas cortam tudo de carvão a pedra de sal. Mais de 250 foram vendidas em todo o mundo. A série MR tem o seu próprio sistema de transporte e pode ser fornecida com dispositivos como o de elevação em arco. Estes dispositivos são utilizados na mina de carvão da PG Silesia para levantar as seções de ferro que sustentam os túneis.
Em comparação com várias grandes mineradoras da Polônia, a PG Silesia é uma anã. Kompania Weglowa, a antiga proprietária, é a maior empresa de hulha da União Europeia, com produção anual de 45 milhões de toneladas e 60 mil funcionários em 15 minas. A estatal Katowicki Holding Weglowy também é uma grande do setor, com produção de 13 milhões de toneladas, e a LW Bogdanka, que já foi pública, produz 8,7 milhões de toneladas. A Polônia é também a maior produtora de coque da União Europeia: a Jastrzebska Spolka Weglowa vendeu mais de 12 milhões toneladas em 2011.
A PG Silesia pode ser pequena, “mas as reservas são consideráveis”, afirma Klehm. Em uma folha de papel A4, ele esboça uma área da mina, que tem vários quilômetros de comprimento e largura, com várias camadas e diferentes tipos de rocha que não superam 2,5 metros de altura, mas com mais de um quilômetro de comprimento.
“Estamos sentados sobre reservas geológicas de 500 milhões de toneladas, bem como reservas industriais de 130 milhões”, conta. “E isso é suficiente para mais de 40 anos”.
Três quartos da produção são destinados às centrais térmicas da região e o restante é usado para aquecimento. Nenhum outro país da União Europeia é tão dependente do carvão como a Polônia, que produziu mais de 75 milhões de toneladas em 2011 e importou cerca de 16 milhões. No mesmo ano, o carvão representou 93% do fornecimento de eletricidade e quase 90% do aquecimento. Com 38 milhões de habitantes, o país está entre os dez maiores consumidores do mundo.
Este perfil de energia contrasta com as crescentes exigências ambientais da UE, que determinam a redução das emissões de gases de efeito estufa em cerca de 90% até 2050, considerando os níveis de 1990. O preço que a Polônia deve pagar para o ajuste, de acordo com o ministro do Ambiente Marcin Korolec, equivale a 1% do Produto Nacional Bruto até 2030.
O país, então, decidiu construir sua própria usina nuclear, apesar da nítida divisão entre os seus cidadãos. No início da próxima década, um reator de três gigawatts entrará em operação. Dez anos depois, a capacidade será dobrada. Ao mesmo tempo, o investimento continua em fontes renováveis de energia, como eólica e biomassa. Outra alternativa é a extração de gás de xisto, que reduzirá a dependência das importações, principalmente da Rússia.
No momento, tudo isso só existe no papel. Mas investimentos estão sendo realizados na modernização de antigas usinas de carvão, onde a capacidade de extração está sendo ampliada e as emissões de dióxido de carbono reduzidas, ao mesmo tempo em que seis a oito novas unidades estão sendo planejadas. A força motriz é o aumento dos preços da energia elétrica, bem como os custos futuros para os certificados de emissões. A Polônia é atualmente isenta da exigência do certificado, mas terá que pagar integralmente por seus direitos de emissões a partir de 2020.
Este é o melhor dos cenários para minas como a PG Silesia, que estão se modernizando e reduzindo os custos de produção. “Em nossa análise, a demanda ficará estável por um bom tempo”, aposta Klehm. A PG Silesia não está sozinha nesta visão. Pela primeira vez em muito tempo há planos para colocar novas minas em operação, ao mesmo tempo em que antigas minas estatais estão sendo privatizadas e recebendo investimentos. Um sinal dos tempos é que o segundo industrial mais rico da Polônia, Jan Kulczyk, pediu autorização para realizar pesquisas geológicas em Katowice, onde pretende iniciar duas novas minas, investindo pelo menos 300 milhões de euros em cada. “Deve-se ter cuidado para não exagerar, mas o fato é que estamos vivenciando uma espécie de boom nas minas de carvão polonesas”, diz Andreas Jagiello, diretor de Mineração para a Europa.
Bronislaw Janik, 44, que cuida do guincho de elevação do poço e que já trabalhou na mina por 26 anos, não imagina o futuro sem minas de carvão. “Meu pai e meu avô eram mineiros aqui na PG Silesia. E agora meu filho de 22 anos começou a estudar tecnologia de rochas, a fim de manter a tradição.” Então ele bufa com desdém. “As pessoas que dizem que o carvão já deu o que tinha que dar não sabem o que estão falando.”
Tomas Lundin