Reduzindo custos em silêncio

Heilbronn, Alemanha. Como um dos primeiros produtores industriais de sal do mundo, a alemã Südwestdeutsche Salzwerke aplicou um método de mineração contínua, em vez da perfuração e detonação, indesejadas em áreas urba-nas. Com isso, seus custos caíram 10% por tonelada – um incentivo significativo nesse mercado tão competitivo.

“Segurem BEM os capacetes!” O aviso do guia da nossa excursão vem no exato momento em que uma lufada nos atinge por baixo. Estamos caindo a uma velocidade de oito metros por segundo pelo eixo Franken, em total escuridão, dentro de uma mina de sal no sudoeste da Alemanha. Normalmente, a gaiola é usada para transportar até 18 toneladas de sal da mina até a superfície.

Sal – mais do que um tempero

Quando se pensa em sal, a primeira coisa que vem à mente é o sal de cozinha. Porém, somente uma pequena parcela da produção mundial de sal é usada para comida. Na Alemanha, por exemplo, essa cifra é de apenas 3%. Cerca de 80% de todo o sal escavado e utilizado vai para fábricas e indústrias químicas que produzem materiais sintéticos, como o policloreto de vinila, ou PVC, usado para fabricar desde esquadrias de janela até cartões de crédito e CDs.

O sal para estradas consome 13%. Segundo a Südwestdeutsche Salzwerke, estudos indicam que o uso do sal para descongelamento de neve em estradas reduz o número de acidentes em 80 a 85%.

O sal para outros fins industriais, como têxteis e refinamentos em processos de galvanização, compõe mais 5%. Criadores de gado usam blocos de sal mineral como suplemento à ração.

O sal é uma matéria-prima com estoque praticamente inesgotável. Os oceanos contêm cerca de 46 quatrilhões de toneladas de sal. Se a água evaporasse, a superfície da terra ficaria coberta com uma crosta de sal de 36 metros de espessura.

A Alemanha é o terceiro maior produtor de sal do mundo, depois da China e dos EUA. A produção da China superou em três vezes a da Alemanha em 2007 – 59,8 milhões de toneladas contra 19,8 milhões. Porém, grande parte da produção de sal da China provém de salinas ao longo do litoral. A produção global de sal atingiu 257 milhões de toneladas em 2007.

Paramos cerca de 200 metros abaixo da superfície. À nossa frente está um labirinto de túneis com passagens tão largas quanto rodovias, 700 quilômetros ao todo. Algumas se prolongam por baixo da cidade de Heilbronn, de 120 mil habitantes, ao norte de Stuttgart. É aí que a Südwestdeutsche Salzwerke opera a maior mina de sal da Europa Ocidental. Fundada em 1885, ela contém reservas confirmadas para pelo menos mais 40 anos de escavações.

O sal, às vezes apelidado de “ouro branco”, é uma das commodities mais essenciais do mundo há séculos. Aqui em Heilbronn, onde os depósitos horizontais de sal têm até 40 metros de espessura, a mina se dedica sobretudo ao sal industrial usado na indústria química, com produtos finais que vão de xícaras de plástico a telefones celulares e sal para descongelamento de estradas.

O carro que estamos usando está completamente coberto de sal. É uma estrada acidentada pelos túneis escuros até onde trabalham dois mineradores contínuos da Sandvik. Passamos por câmaras de 10 a 12 metros de altura, abertas dentro dos depósitos de sal, onde a escavação convencional ocorre por perfuração e detonação.

Depois de um trajeto de 5 km, chegamos ao nosso destino, onde conseguimos distinguir a forma de um equipamento de fixação de tirantes Sandvik MB770. É a maior máquina do mundo de sua espécie, com 13 metros de comprimento, 4,7 metros de altura e 125 toneladas de massa. Um motor elétrico de 400 kW, girando a 32 rpm, aciona verticalmente o tambor de corte, que remove o mineral raspando a face. Em seguida, o mineral é recolhido e retirado automaticamente pelo sistema de esteira da máquina. Dois caminhões, capazes de transportar 30 toneladas cada, trabalham em turnos para carregar o material sobre a esteira transportadora na boca da seção. O sal-gema então é peneirado antes de ser transportado para fora da mina.

Com esse tipo de minerador contínuo, não é mais necessário usar um britador. “A máquina é fantástica. Em média, avançamos 25 metros por turno”, comenta o operador Ernst Scheiterbauer. Ele administra e supervisiona o processo com uma unidade de controle remoto pendurada à frente da barriga. Apenas quatro pessoas cuidam da seção de escavação: um operador, dois motoristas de caminhão e um ajudante.

Metade da mina de Heilbronn ainda é escavada da maneira convencional. Máquinas enormes fazem perfurações de até sete metros de profundidade, que são preparadas com explosivos. Cada explosão demole entre 300 e 1.000 toneladas de sal. Hoje em dia, o pessoal realiza três turnos de detonação por dia, um para cada área de mineração. Depois de cada descarga, a área tem que ser evacuada durante quatro horas, enquanto os gases venenosos se diluem. As detonações são proibidas depois das 22 horas e novos regulamentos da UE sobre os procedimentos de segurança são esperados.

Entre as 10 maiores

A Südwestdeutsche Salzwerke de Heilbronn é um dos 10 maiores produtores de sal do mundo.Atualmente, a mina de Heilbronn tem planos de extrair 4 milhões de toneladas de sal anualmente: 1,7 milhão de toneladas de sal industrial, 1,5 milhão de sal para estradas, 300 mil para alimentos e outros usos e 500 mil para reserva.

O Grupo Südwestdeutsche Salzwerke também inclui uma mina de sal em Berchtesgaden, onde o sal-gema é extraído desde 1193, assim como unidades que produzem sal de cozinha em Bad Reichenhall e Friedrichshall. O grupo tem 1.077 funcionários e informou um faturamento de 237 milhões de euros no ano passado.

A rápida exploração da mina também está se aproximando de novas e populosas áreas residenciais desta região industrial em franco crescimento.

“Estudos realizados regularmente mostram que as explosões não causam qualquer dano acima da superfície. Mas algumas pessoas têm se mostrado incomodadas. Foi por isso que começamos a buscar técnicas alternativas”, diz o gerente da mina, Gerd Bohnenberger.

Como membro da diretoria da Südwestdeutsche Salzwerke, Bohnenberger entrou em contato com especialistas em mineração do Instituto de Tecnologia RWTH, em Aachen. Eles avaliaram várias opções e recomendaram partir para a mineração contínua, um método com boa reputação para minas de carvão, especialmente na América do Norte e na África do Sul.

Em 2006, a Südwestdeutsche Salzwerke decidiu adotar um MB770 (na época, equipamento de fixação de tirantes, Alpine, ABM30 -CM). A máquina nunca tinha sido usada em minas de sal e ninguém tinha certeza de como funcionaria, a não ser na teoria.

Seguiram-se meses de adaptação. “A única experiência que tínhamos com mineradores de tambor era a partir do carvão, que é completamente diferente do sal”, conta Franz Feuchter, gerente de serviços de campo para mineração subterrânea da Sandvik Mining and Construction na Alemanha. “O sal é resistente e exige equipamentos mais fortes. Isso nós já sabíamos desde o início, mas outras coisas tivemos que ir descobrindo com o tempo.”

Feuchter continua fortemente envolvido no projeto. Desde o início, em maio de 2006, ele viaja a Heilbronn uma ou duas vezes por mês para conversar com os operadores, pesquisar o desempenho da máquina e abastecer o departamento de projeto da Sandvik com informações valiosas.

Wolfgang Rüther, gerente de produção da Südwestdeutsche Salzwerke, se encontra freqüentemente com Feuchter em reuniões de acompanhamento. “Eles investiram muito conhecimento para que isso funcionasse. A direção manual convencional foi substituída por um sistema para corte automatizado, assim como o transformador sensível a vibrações e o tambor de corte”, comenta Rüther sobre a parceria com a Sandvik.

“É um processo contínuo de otimização, que nos tem trazido uma enorme redução das horas nãooperacionais e aumentado muito o volume de produção”, destaca Bohnenberger. Com esse método, a produção subiu de 40 mil toneladas por mês em 2007 para 60 mil toneladas por mês um ano mais tarde. No final de 2008, ela havia alcançado impressionantes 95 mil toneladas por mês. Segundo ele, a modernização tem sido muito bem-sucedida, tanto em termos de tecnologia como de custos de produção.

Assim, em 2007, a empresa decidiu adquirir outro minerador contínuo, novamente um MB770. A experiência adquirida com a primeira unidade e o pessoal já treinado tornaram possível que a máquina entrasse em operação já um mês depois da entrega, em novembro de 2008.

Desde então, a mina alcançou 110 mil toneladas por mês usando mineração contínua, e os custos estão caindo paulatinamente. “Comparados com a perfuração e detonação, nossos custos por tonelada são mais de 10% menores”, diz o gerente de produção Wolfgang Rüther.

O mercado do sal é caracterizado pelo excesso de capacidade e pela competição acirrada. Perseguir soluções econômicas é uma questão de sobrevivência. “O sal para aplicações industriais e descongelamento geralmente é um produto de massa. O que importa são o preço, a qualidade e a entrega rápida e flexível”, explica Rüther.

Embora apenas metade do processo de escavação da Südwestdeutsche Salzwerke tenha passado para mineração contínua até agora, o plano é continuar expandindo nessa área. Outra máquina deverá ser implementada em 2011.

“A longo prazo, é bem provável que fiquemos apenas com essa nova tecnologia. A detonação só será necessária para atender picos extremos de demanda”, prevê Bohnenberger.

Em suma, cinco mineradores contínuos darão conta de toda a escavação da maior mina de sal da Europa Ocidental.

Texto: Tomas Lundin