Amor à mineração
Rick Howes já viu de tudo. Com 35 anos de experiência em mineração, o CEO da Dundee Precious Metals (DPM) ocupou diversas funções na indústria. Mesmo que ele tenha chegado ao topo de sua profissão, ele quer ir mais longe e, como gosta de dizer, “tirar o máximo da mina”. Ele conversou com a Solid Ground sobre a revolução da “mineração inteligente”, atualmente em curso.
Quais mudanças operacionais você viu em seus 35 anos na indústria de mineração?
Isso pode surpreendê-lo, mas a indústria não mudou drasticamente a forma de atuar desde 1980, quando eu consegui meu primeiro emprego na mineração. Em termos de operação de equipamentos e níveis de automação, com certeza, tem havido algumas pequenas alterações – os equipamentos estão cada vez maiores, especialmente em mineração a céu aberto, e a automação tornou-se mais usual – mas em geral as mudanças foram mínimas.
A mina de cobre e ouro Chelopech da DPM na Bulgária é um modelo de eficiência, tendo quadruplicado a produção desde sua aquisição em 2003. Como isso foi alcançado?
Chelopech era uma mina da era soviética que estava negligenciada quando a adquirimos. Ela não tinha a estrutura de negócios necessária nem qualquer motivação da equipe para fazê-la prosperar. O que ela oferecia era oportunidade: oportunidade de investir capital, de mudar a cultura operacional, de mudar os métodos de mineração para se extrair a maior quantidade de minério possível da mina. Grande parte das mudanças que trouxemos para Chelopech foi tecnológica e baseada em inovação, e o que aconteceu eu chamaria de uma grande transformação. Ela nos permitiu trazer o melhor de nossa capacidade e cultura para administrar o que éramos capazes de alcançar.
Em uma palestra a estudantes de mineração, você falou da grande oportunidade que as minas têm para repensar a eficiência e introduzir novas formas de enxergar as operações. Você pode descrever essa revolução da “mineração inteligente”?
Comecei minha carreira como engenheiro de minas e em meus 35 anos de trabalho passei muito tempo pensando em formas de melhorar a eficiência e a otimizar o desempenho. No momento em que cheguei à DPM, muitas das minhas idéias estavam prontas para serem implementadas. Uma delas é a mina digital, uma mina que está conectada por comunicação sem fio, permitindo rastreamento, uso e registro de dados em tempo real. Obviamente, a mina digital só é possível com uma série de tecnologias a serem implementadas.
Na DPM, nós desenvolvemos esses conceitos, juntamente com nossos parceiros estratégicos, como a Sandvik Mining, para construir tal mina ao longo de vários anos, implementando nossa visão de uso de informação digital e em tempo real. Embora ainda estejamos apenas explorando superficialmente o potencial, acreditamos já ter estabelecido um novo padrão na indústria de como construir uma mina moderna, capaz de otimizar seu próprio desempenho.
Quais são os principais benefícios de se utilizar informações em tempo real na mina?
O primeiro ganho foi nos permitir controlar, programar e executar nosso plano. Agora podemos medir nossas expectativas em relação ao que está realmente acontecendo na mina. Informações em tempo real permitem que você acompanhe a programação, observe interrupções nos processos e intervenha se as coisas derem errado. Devo dizer que é com isso que a indústria realmente sofre hoje em dia: os operadores são informados sobre suas atividades a serem realizadas no turno através de planilhas impressas, mas a realidade é que eles atrasam e a gestão só fica sabendo bem depois, quando é tarde demais para intervir. Nosso conceito é intervir em qualquer parada quando ela ocorre e retomar o curso o mais rápido possível.
Sobre a empresa
A DPM é uma mineradora canadense com atuação internacional em aquisição, exploração, desenvolvimento, mineração e beneficiamento de minerais metálicos. Os objetivos de negócios da DPM são identificar, adquirir, financiar, desenvolver e operar minas com baixo custo e longa vida útil.
Esses são os ganhos iniciais, mas a fase seguinte envolve a otimização real, ligando análise de dados preditivos e coleta de dados para o planejamento, programação e execução de forma integrada. Esse é o caminho, e com esse tipo de operação podemos usar especialistas de todo o mundo para resolver problemas de campo em tempo real, usando dados e algoritmos disponíveis, transformando-nos de apenas mineiros para uma empresa de conhecimento.
Quais são as dificuldades inerentes de implantar estratégias modernas em confronto com atitudes, culturas e hábitos de mineração tradicionais?
Pode haver uma falta real de confiança, particularmente em um ambiente sindicalizado, com a introdução da tecnologia em uma mina. É muitas vezes visto como uma maneira de fazer as pessoas trabalharem mais ou se tornarem obsoletas – daí a resistência. Então, sempre temos de começar por construir confiança entre as equipes operacionais e de gestão. E para ser bem honesto, a resistência vem mais do corpo gerencial do que do nível operacional. Estas são as pessoas que assumem o papel de “bombeiros”; elas exigem que algo aconteça para que possam reagir. As estratégias modernas que empregamos são o oposto disso – elas são proativas e preventivas. Tudo se resume a planejamento e execução. É por isso que a nossa abordagem de gestão de mudança funciona – porque envolve todos em todos os níveis. É inclusiva e colaborativa.
Como a Sandvik Mining ajudou a DPM a atingir seus objetivos de otimização de resultados?
Nossa relação com a Sandvik Mining vai muito além do relacionamento tradicional entre cliente e fornecedor. Houve um verdadeiro espírito de colaboração para alcançarmos nossos objetivos e um poderoso exemplo do que é possível quando clientes e fornecedores de mineração estão em sintonia. Todos os processos são repletos de desafios, e este não foi diferente, mas as pessoas comprometidas e dispostas a trabalhar mostraram o verdadeiro espírito da cooperação.