Peças inteligentes
Por milênios, a humanidade fez uso de tecnologias subtrativas e formativas, como fundição, forjamento e torneamento, para fazer produtos de metal. Agora existe uma nova alternativa: a manufatura aditiva, também conhecida como modelagem aditiva ou impressão 3D. A Sandvik está explorando esse novo território para otimizar suas cadeias de suprimentos globais e oferecer novas vantagens a seus clientes.
A Manufatura Aditiva (MA) é uma tecnologia com grande potencial em termos de benefícios, como menores uso de material, custos de ferramentas e prazos de entrega. Espera-se que o valor das peças MA cresça a uma taxa anual de 15%, de US$ 12 bilhões em 2020 para US$ 51 bilhões em 2030. Isso por si só torna compreensível que a Sandvik a veja como uma ferramenta potencial para otimizar as cadeias de suprimentos globais.
Com sua posição de liderança mundial de longa data em pó de metal e a maior variedade de ligas MA do mercado, a Sandvik, desde 2013, faz investimentos consideráveis em uma ampla gama de tecnologias de impressão de manufatura aditiva. Em 2019, ela adquiriu uma participação significativa na BEAMIT, o primeiro hub de MA da Europa. Juntas, as duas empresas possuem experiência líder em toda a cadeia de valor.
“Você precisa ter valor real para mudar da fabricação convencional para aditiva. O foco é encontrar a tecnologia de aplicação certa para a sua organização e, em seguida, comprová-la”, explica Abhijit Bhalgat, vice-gerente geral de Parts Sourcing para a Sandvik Mining and Rock Solutions na Índia. Ele lidera esta iniciativa de manufatura aditiva desde novembro de 2017 e, com sua equipe, redesenhou as peças, calculou e validou os casos de negócios para garantir valor ao mudar os processos convencionais para aditivos e implementá-los em produção em série.
O desafio é que uma simples replicação de peças projetadas para soldagem ou fundição resultará quase invariavelmente em um custo proibitivo, principalmente devido ao maior custo de produção por hora e materiais mais caros da MA. A desafiadora estrutura de custos deve ser justificada com benefícios substanciais. Um caso de negócios existe quando a MA cria uma vantagem única em termos de produtividade, tempo de entrega ou logística, ou permite uma geometria complexa não alcançável nos processos convencionais.
A ferramenta-chave para isso é a otimização topológica, ou seja, redesenhar a peça para remover quaisquer partes não funcionais e não tensionadas e deixar apenas as estruturas necessárias. Isso pode reduzir o peso do componente em 50% em média e, em alguns casos, em até 85%.
Outro fator para a viabilidade é o número de componentes a serem produzidos. Quanto mais curto o ciclo de produção, mais relevante é a MA, porque as economias de escala inerentes às tecnologias convencionais exigem grandes quantidades. Por outro lado, a possibilidade de eliminar a maior parte dos custos de ferramentas convencionais pode ser crucial em peças de baixo volume.
“O objetivo da iniciativa de MA da Sandvik era melhorar nosso atendimento ao cliente e explorar o valor agregado que essa tecnologia pode trazer em casos de negócios reais”, destaca Bhalgat.
Outro impulsionador é a produção muito localizada de peças de reposição da Sandvik Mining and Rock Solutions: 92% delas são fabricadas na UE e na América do Norte, sendo a Finlândia responsável por 50% do total. No entanto, os principais mercados estão na Austrália, África do Sul, Américas e Índia. Combinado com uma gama de peças obtidas caso a caso, há incentivo para uma logística mais enxuta.
Benefícios da Manufatura Aditiva de Peças
- Entrada mais rápida de novos produtos e peças no mercado
- Prazos menores para entrega de peças de reposição
- Melhor disponibilidade de peças
- Produção de peças mais próxima dos usuários
- Custos logísticos e pegada de CO2 menores
Além disso, a MA cria possibilidades para garantir a disponibilidade, reduzindo o risco de qualquer fornecedor de peças sair do mercado ou perder o interesse em uma peça de baixo volume. Os componentes no fim do ciclo de vida e os itens de baixa movimentação são menos sensíveis ao preço, portanto, o custo adicional é um problema menor. O projeto também visava reduzir os estoques de peças sobressalentes e o capital de giro líquido, diminuindo estoques desnecessários e evitando quantidades mínimas de pedidos. Ter a MA mais próxima dos clientes também encurta as cadeias de suprimentos e reduz prazos de entrega e custos logísticos, incluindo armazenamento e taxas alfandegárias.
A equipe de Bhalgat rastreou e analisou cerca de 15.000 peças da SMR com um volume anual inferior a dez. O catálogo se resumiu a 140 peças pré-selecionadas, que se tornaram cerca de 40 viáveis no final. O Bangalore Design Center da Sandvik, na Índia, redesenhou as peças para MA junto com o Grupo BEAMIT, e a produção ocorreu nas instalações europeias da BEAMIT.
Os resultados foram impressionantes: a redução média de peso foi de 25%, com economia semelhante, pois os custos logísticos são diretamente proporcionais ao peso.
3 PROCESSOS PARA O METAL
- Fusão em leito de pó
Tecnologia mais confiável e dominante atualmente
Sem sinterização pós-processo - Deposição direta de energia
Grandes componentes, reparos no local - Jato de aglutinantes
Tecnologia em evolução
Menor custo, mais rápido
Requer sinterização pós-processo separada
Outro ganho foi em sustentabilidade. Com uma distância média de transporte de 11.000 km, aproximar a produção dos usuários finais faz sentido para os negócios e gera benefícios ambientais. Considerando os dados de emissões de carbono por aviões e as vendas médias anuais, as reduções de emissões alcançáveis são de aproximadamente 50%, variando entre 17% e 75%.
Mais um grande benefício é a redução significativa do tempo de entrega, em média 37 dias. Isso significa que as peças podem ser entregues cerca de 50 a 70% mais rápido e, com a maior eficiência dos componentes, reduz o consumo de energia e melhora o desempenho.
Um ótimo exemplo foi a tampa do tanque de combustível em que o latão foi substituído por alumínio, diminuindo o peso em 78%. Os benefícios adicionais incluíam a marca com o logotipo da Sandvik e o código da peça impresso na tampa.
Alguns desafios ainda precisam ser enfrentados. Um coletor hidráulico teve o peso reduzido em 82%, de 36,55 kg para 6,65 kg. Mas, apesar dos resultados impressionantes, testes de campo bem-sucedidos e feedback positivo, o custo adicional não era viável.
O que vem depois? “O projeto agora avança para sua segunda fase”, conta Bhalgat. “Vamos ajustar os critérios e ignorar as peças que se aproximam do fim de seu ciclo de vida. Isso nos deixará com cerca de 5.500 peças com maior potencial para uma reanálise.”
A manufatura aditiva é uma tecnologia em rápida evolução e provavelmente se expandirá significativamente nos próximos dez ou 15 anos. Onde a Sandvik se vê nisso tudo?
“A MA está evoluindo muito rapidamente e ainda precisa evoluir muito para produzir peças maiores, mais rápidas e consistentes a um preço econômico”, esclarece Bhalgat. “Como usuário final, o maior desafio é ter um caso de negócios viável. A indústria, incluindo fabricantes de equipamentos e pó de metal, universidades e outras instituições de pesquisa, estão trabalhando nas limitações atuais, e espera-se que a tecnologia amadureça na próxima década. Até lá, estaremos prontos para usá-la com força total. Em última análise, o objetivo é converter cerca de 5% de nosso estoque – 3.000 peças – em manufatura aditiva até 2030.”
Sandvik e Boliden fazem parceria para testar manufatura aditiva
A empresa sueca de mineração e metais Boliden se uniu à Sandvik Mining and Rock Solutions para realizar um teste com peças impressas digitalmente e instaladas em equipamentos de perfuração subterrânea.
O teste com a Sandvik envolve um conjunto de componentes especialmente projetados, fabricados de forma aditiva em uma instalação da empresa na Itália, com seu desempenho sendo monitorado em equipamentos nas minas subterrâneas da Boliden – primeiro na Suécia e depois em uma operação na Irlanda.
Um dos muitos benefícios das peças impressas localmente é que elas chegam aos clientes com muito mais rapidez e sustentabilidade. Itens operacionais de manutenção e reparo (como buchas, suportes e peças de perfuração que precisam ser trocados a cada 3 mil a 4 mil horas) serão os primeiros impressos digitalmente.